Exit in Public #1: Valor da compra não revelado? 🤔
Não se limite a manchetes. Descubra os detalhes das transações de M&A só com dados públicos!
O Exit in Public é uma iniciativa pessoal que visa abrir a caixa preta do M&A de startups com fundadores, investidores, colaboradores e quem mais possa se interessar sobre o assunto.
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Olá!
Como essa é a primeira edição, não posso deixar de começar agradecendo pelas mensagens de incentivo e apoio que recebi desde que compartilhei que iria começar o Exit in Public!
Fico muito feliz e espero que a gente possa trocar muito ao longo dessa jornada!
Se você está chegando agora, recomendo ler o post introdutório que fiz: o por quê?
TL;DR:
Desconsiderando os write-offs, 76% das empresas tech VC-backed têm sua saída para um player estratégico;
Destrinchar uma transação de M&A = insights e provocações valiosas;
Por trás das notícias e fatos relevantes há uma série de documentos públicos que te permitem descobrir os detalhes dos deals
O anúncio de um M&A por um estratégico é certamente uma notícia que desperta a atenção, principalmente se a empresa que está adquirindo ou que foi adquirida tiver semelhanças com a sua empresa ou com a que você estiver analisando.
Por que comprou?
Por que optou pela empresa A e não por B?
Qual é a tese?
Faz sentido estrategicamente?
Quanto que está pagando?
De que forma será esse pagamento?
Tem earn-out?
Esse deal segue o “padrão” de outras aquisições realizadas pela empresa ou é diferente?
Qual é o tamanho da adquirida?
Há investidores por trás? Quem são?
Os fundadores continuam?
O preço nos parece razoável, caro ou barato?
Entre tantas outras perguntas que acabam surgindo…
Toda essa curiosidade tem uma razão para existir. Se você é empreendedor e algum dia chegar ao tão almejado exit, pode se preparar porque provavelmente ele acontecerá para um player estratégico.
45% das empresas tech VC-backed têm seu exit para um estratégico. Se desconsiderarmos os write-off da conta, vemos que o número sobe para 76% dos casos.
Outro estudo que defende a mesma tese é o do CBInsights, que mostra que apenas 30% das empresas que levantam ao menos uma rodada de capital conseguem chegar ao exit e, quando chegam, ele se dá por um M&A.
Mas voltando para nossas perguntas… o fato é que respondê-las não é tarefa fácil. O mais comum é acabar esbarrando no “valor da compra não revelado” e parar por aí.
Quando quem compra e quem vende são empresas privadas, as chances são baixas de que você vai tirar mais do que já foi veiculado nas reportagens.
Agora, se a compradora é uma empresa pública, seja listada na B3 ou lá fora, há leite para tirar dessa pedra. E você não deveria se contentar com menos. Afinal, essas informações podem se tornar inputs valiosos para você.
Separei um deal para destrincharmos juntos. Depois, fiquem à vontade para fazer outras análises por conta e me acionar caso surja alguma dúvida no caminho.
Vamos começar com os passos mais “óbvios” até chegarmos aos que percebo que são pouco exercitados por grande parte das pessoas.
O framework é o seguinte:
Arco Educação compra Me Salva para entrar no B2C, Março de 2021
Notícia: essa etapa é a que a maior proporção de pessoas realiza. Não há surpresas, afinal, provavelmente vamos receber esse anúncio num grupo do whatsapp, numa newsletter que a gente assina, no feed de alguma rede social e por aí vai.
A notícia informa o essencial sobre o deal. Mas ainda ficamos sem muitas respostas e, usualmente, esbarramos no que já comentamos:Fato relevante: é o que dá origem à notícia, mas com a vantagem de vir livre de edições ou vieses externos, dado que é publicado pela própria empresa. Com ele, já é possível coletar algumas informações adicionais.
Esse material pode ser encontrado, no caso de empresas públicas, no site de relações com investidores (RI).Material adicional: há casos em que a própria adquirente prepara um material de detalhamento de modo a mostrar para os acionistas como essa operação vai gerar valor para eles no futuro.
Nele, mais uma vez, podemos levantar informações que até então não tínhamos.Release de Resultados (ou Earnings Presentation): trimestralmente as empresas públicas divulgam seus resultados, no qual trazem os principais highlights da operação e destacam também como as operações de M&A se encaixam no todo.
Você pode analisar tanto a apresentação, quanto o release, quanto a chamada com os acionistas.Apresentação Institucional (ou Company Presentation) + Investor Day & Histórico da adquirida: mesmo com os passos acima, pode ser que você ainda queira ir mais profundamente na análise. Para tanto, a bifurcamos em dois blocos, um para a compradora e outro para a vendedora.
Compradora: para ter mais contexto sobre a empresa e sua atuação, analise a Company Presentation, o material do Investor Day e, ainda, as aquisições anteriores a que você está debruçado (há casos em que no próprio RI já tem uma aba que reúne todas as operações para facilitar a consulta).
Vendedora: para ter mais contexto sobre a adquirida, é possível utilizar ferramentas como o Crunchbase, Pitchbook, CBInsights, TTR, entre outras. Nessas plataformas é possível ver o histórico de investimentos, os investidores que participaram das rodadas, ter um compilado das notícias veículadas sobre a empresa, entre outras funcionalidades.
Nem todas têm a versão gratuita, mas fique tranquilo porque é também possível fazer essa consulta manualmente hehe
Para fazer a pesquisa manualmente o combo Linkedin + Google costuma dar conta do recado.
O Linkedin nos ajuda a encontrar as pessoas que compõem o board, o número de funcionários, ver que publicações estão trending sobre a empresa, entre outras informações básicas.
Já o Google, por meio do uso dos filtros da ferramenta de pesquisa, nos permite compilar as notícias mais relevantes dentro de um período. Isso é bem útil quando você quer ver notícias que acabam não ganhando o mesmo destaque que as de investimento e aquisição recebem.Formulário de Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP), Informações Trimestrais (ITR) ou Financial Statements: até aqui já reúnimos muitas informações, mas e o valor do deal? E o earn-out? E as condições de pagamento? Será que tem como a gente saber? Sim, em grande parte dos casos é sim possível. Ou, na pior das hipóteses, ter uma ordem de grandeza. Como? Por meio do ITR, DFP ou Financial Statements.
Esse também é um documento liberado trimestralmente por empresas públicas. Não se assuste com o tamanho dele, vamos buscar por palavras-chave. Mas para já facilitar, a seção business combinations é a que costuma matar a charada.Alguns highlights:
Aquisição de 60% da Me Salva!, sendo ~R$ 15,8M em dinheiro (cash out) na data da aquisição. ~R$ 10M foi em capital contribution, ou seja, cash in para crescimento;
~R$ 1,3M em escrow account liberado dividido parcelas iguais e anuais durante 5 anos, em caso de qualquer problema que aconteça;
~R$ 22,2M, relativos aos 40% restantes, a serem pagos em 2025. Esse valor foi calculado com base na receita estimada de 2024 com um múltiplo sobre receita de 3x. Aparenta também ter um trigger de geração de caixa envolvido para esse pagamento;
Receita do Me Salva! em Q1/21 de ~R$ 940k, com prejuízo reportado (EBT) de ~R$ 236k
Extras: vale ficar atento a bate-papos com os fundadores, artigos que eles próprios escrevem, paineis que participam, entre outras iniciativas, que sempre rendem novos insights ao entendimento do todo.
Uma série interessante, ainda que não tenha um episódio com a Me Salva! até o momento, é o Exit in Action realizado pelo Startupi.
Depois de seguir os 7 passos, fica nítido o quanto conseguimos extrair da nossa análise! Espero que ao se deparar com transações de M&A daqui para frente o método acima te renda bons frutos.
E como recado final: não pare nas manchetes ou fato relevantes ao analisar transações de M&A!
Um convite: após toda a análise, compartilhe comigo seus principais insights e, também, arrisque responder as perguntas lá de cima para seguirmos a discussão! 😉
Algumas observações finais:
Quando uma empresa faz o IPO (initial public offering) é possível fazer uma análise semelhante por meio do prospecto e, também, do primeiro financial statement divulgado. Exemplo: Nubank + Easynvest.
NotíciaDependendo do tamanho das operações, não necessariamente conseguiremos o nível de granularidade que desejamos, mas ainda assim temos uma ordem de grandeza. Exemplo: XP + Fliper e XP + Antecipa.
Mesmo nas empresas que não costumam divulgar nas notícias o valor das transações, é possível conduzir a análise acima. Exemplo: Magalu
Disclaimer: As análises e opiniões são minhas. Não estou fazendo qualquer tipo de indicação de investimento. Esse post tem apenas caráter educativo que visa apoiar empreendedores, investidores e demais interessados em melhor analisar transações de M&A divulgadas no mercado.
Recomendo também a leitura:
Como a estratégia de M&A das empresas SaaS geram valor para os acionistas, da DealflowBRO por quê?, da Exit in Public
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Grande abraço,
Luiz