Exit in Public #3: Time to Exit em M&As Tech ⌛
Quanto tempo uma empresa de tecnologia leva desde a fundação até o exit?
O Exit in Public é uma iniciativa pessoal que visa abrir a caixa preta do M&A de startups com fundadores, investidores, colaboradores e quem mais possa se interessar sobre o assunto.
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Fala, pessoal!
Sejam muito bem-vindos a mais uma edição do Exit in Public!
Antes de seguirmos, quero agradecer a todos que vêm compartilhando o conteúdo, enviando sugestões, mandando mensagens de incentivo e de apoio. Fico extremamente feliz de ver que estamos, de pouco em pouco, abrindo a caixa preta do M&A Tech.
Sem mais delongas, vamos analisar na edição de hoje quanto tempo leva para chegar ao exit desde a fundação. Spoiler: não é da noite para o dia!
Espero que gostem. Boa leitura!
TL;DR:
O time to exit, de 2016 a 2021, vem aumentando;
Hoje em dia, na média, as empresas de tecnologia que serão adquiridas vão ter de 7,7 a 9,5 anos de vida;
Empresas VC-Backed têm, na média, um tempo de saída ligeiramente menor do que as non-VC-Backed;
Cuidado com a assimetria entre quem compra e quem vende. A melhor forma de combatê-la é nivelar as expertises. Traga apoio.
A jornada até o exit leva anos.
Não se engane. Não há sucesso do dia para a noite.
Bom… até aqui surpreendi um total de zero pessoas 😅 rs
Mas vamos lá. Quanto tempo leva no contexto de empresas de tecnologia?
Intuitivamente já vem na sua cabeça, querido leitor, alguns palpites. Mas o que os dados dizem? Mais do que isso, por que essa pergunta importa?
Antes de partirmos para a análise, quero compartilhar como cheguei até essa reflexão e porque acredito que ela é importante de ser feita por você também.
Provavelmente, você já leu a edição passada do Exit in Public, onde discuti o Efeito do Lago Wobegon no M&A de Startups. Se não leu, recomendo dar uma conferida antes de continuar a leitura aqui.
Continuando…
A essa altura já sabemos que são poucos os empreendedores que chegam até o exit (e por isso que devemos celebrar muito esse feito!) e, dos que chegam, nem todos vão ter sua saída 100% como imaginavam, seja em preço e/ou em condições.
Outro fator importante de ser adicionado nessa equação é o fato de que há uma assimetria gigante entre quem compra e quem vende.
Quem compra, normalmente, tem pessoas especializadas em M&A na equipe, dispõe de mais recursos para encarar a operação e, ainda, tem várias transações realizadas ou a serem realizadas, o que traz um track-record importante na hora de tomar decisões.
Por outro lado, o empreendedor que vende sua empresa, normalmente, nunca vendeu antes ou vendeu pouquíssimas vezes se comparado com quem compra.
E aí que chegamos a pergunta que me fez querer investigar o time to exit: quantas vezes ao longo da sua vida você vai conseguir fundar, fazer crescer e vender uma empresa?
Metodologia e inspirações
Para essa análise, estruturei os seguintes passos:
Tomei como inspiração o estudo intitulado “Time to Exit” do Ian Hathway. Nele o autor analisa o tempo que empresas VC-Backed levaram da primeira rodada de captação até o exit.
No contexto deste estudo, preferi explorar o tempo da fundação até o exit.
Assim, analisei mais de mil transações disponíveis no Crunchbase e no Dealbook. Curei essa base para ter apenas M&As de empresas de tecnologia da LatAm na amostra, seja na ponta vendedora ou na compradora.
Com isso, cheguei a um conjunto de 554 transações entre 2016 e 2021 que atendiam a esses critérios.
O próximo passo foi classificar, para os vendedores, uma a uma, aquelas que eram VC-Backed e aquelas que eram bootstrapping.
Com a base devidamente preparada, calculei a média, mediana e dividi a amostra em percentis (10th, 25th, 75th, 90th). Ou seja, a base foi dividida em ordem crescente dos dados, no qual o percentil 10th determina os 10% menores dados da amostra. Já o 25th determina os 25% menores dos dados e assim por diante.
Fiz o passo anterior para a amostra completa (n=544), para a parcela VC-Backed (n=189) e para a parcela bootstrapping (n=365).
Resultados
A média sobe de 2016 para 2018 e a partir daí segue praticamente constante. Em 2021 a média foi de 8,9 anos, enquanto que em 2016 era de 5,8 anos.
A mediana, ou percentil 50th, por sua vez, apresenta uma tendência crescente de 2016 a 2021, mesmo com um vale em 2019. Em 2021 a mediana foi de 7 anos, enquanto que em 2016 era de 4 anos.
Todos os percentis acompanham, apesar de flutuações, a tendência de crescimento, só que em magnitudes diferentes. Para se ter uma ideia, o 10th saiu de 2 anos em 2016 para 3 anos em 2021. Por outro lado, o 90th saiu de 10 para 18 anos.
Já para empresas VC-Backed o efeito é ainda mais nítido. Há uma clara expansão do time to exit em todos os percentis e na média. Uma hipótese aqui poderia ser a maior disponibilidade de capital ao longo dos anos para rodadas de financiamento antes da saída. Outra seria que em 2016, por exemplo, muito mais empresas morriam ou não chegavam ao exit, mesmo com anos de estrada nas costas.
O ano de 2018 foi particularmente mais difícil, no contexto de M&A, para empresas mais jovens, dado que houve uma elevação dos dois extremos da banda (10th a 90th).
Comparativamente, saímos de 2016 para 2021 de 4,3 para 7,1 anos na média, de 4 para 6 anos para a mediana (50th), de 2 para 3 anos para o 10th e, por fim, de 8 para 14 anos para o 90th.
Já para empresas bootstrapped, tivemos uma ligeira diminuição do 90th, saindo de 21,3 anos em 2016 para 20,4 anos em 2021.
A média saiu de 7,7 anos para 9,5 anos (2016-2021), enquanto a mediana saltou de 4,5 para 7 anos.
De fato, como já era esperado, vemos que levou mais tempo para empresas bootstrapped chegarem ao exit do que as VC-Backed. A hipótese aqui é justamente o modelo que o venture capital busca, com períodos de entrada e saída bem definidos no tempo, enquanto as non-VC-Backed surfam com mais autonomia os momentos de mercado.
Voltando a pergunta que motivou toda essa análise… quantas vezes ao longo da sua vida você vai conseguir fundar, fazer crescer e vender uma empresa?
Racional:
Dado a análise acima, vemos que hoje em dia, na média, as empresas de tecnologia que serão adquiridas vão ter de 7,7 a 9,5 anos de vida.
Considerando que o empreendedor monte sua primeira empresa aos 25 anos e venda a última aos 65 anos.
Assumindo o cenário (pouquíssimo provável e que você é de outro planeta com uma incrível capacidade de criar, escalar e vender negócios) em que todos os ciclos de fato culminem num exit e não no fechamento da empresa.
Temos que ao longo desses 40 anos seria possível concluir de 4 a 5 ciclos de fundação até o exit.
A provocação diante dessa conta de guardanapo é: quantas empresas nesse período os compradores potenciais da sua empresa vão ter comprado?
Sozinho vai ser sempre difícil combater essa assimetria.
Não se aventure sozinho no seu exit. Traga apoio formal ou informal, mas traga apoio.
Essa é minha humilde e sincera recomendação a todos os empreendedores e empreendedoras.
E aí, o que vocês pensam sobre o assunto?
Compartilha comigo. Vai ser um prazer continuar esse debate!
Disclaimer: As análises e opiniões são minhas. Esse post tem apenas caráter educativo que visa apoiar empreendedores, investidores e demais interessados em melhor analisar transações de M&A divulgadas no mercado.
Links para clicar e se aprofundar:
Post do Pierre Schurmann no Linkedin sobre o Efeito do Lago Wobegon, compartilhado na edição #2 do Exit in Public
Time to Exit do Ian Hathway
8 Things That Change When Your Company is Acquired, da SaaStr
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Grande abraço,
Luiz