Exit in Public #2: O efeito Lago Wobegon no M&A de Startups
Qual o range de valuation de saída dos M&As de Startups no Brasil? 🔍 Vem descobrir esse e outros insights por trás das aquisições dos maiores compradores do país.
O Exit in Public é uma iniciativa pessoal que visa abrir a caixa preta do M&A de startups com fundadores, investidores, colaboradores e quem mais possa se interessar sobre o assunto.
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Fala, pessoal!
Na edição de hoje, vamos mergulhar nos M&As anunciados entre 2016 a 3T2021 dos maiores compradores de startups do país.
Espero que gostem. Boa leitura!
TL;DR:
Analisei os principais compradores de startups na LatAm.
80% dos deals (n=88) tiveram um valor (preço pago + earnout previsto pela administração nas demonstrações financeiras) inferior a R$ 90 milhões. Abaixo de R$ 50 milhões, temos 70% das transações realizadas.
A partir de 2019 começamos a ver os deals acima de R$ 100 milhões. Além disso, vemos um aumento considerável dos deals até R$ 30 milhões.
Cuidado com o efeito do Lago Wobegon… um bom exit pode deixar de acontecer por causa dele!
Quão acima da média é a sua startup?
Pergunta incômoda… Eu sei.
Mas necessária.
A verdade é que a maior parte das pessoas acreditam que são acima da média em termos de inteligência, senso de humor, aparência, habilidades e por aí vai. Essa tendência, na verdade, tem nome, o chamado efeito do Lago Wobegon.
Em resumo, o efeito do Lago Wobegon consiste em superestimar suas características positivas e subestimar as suas negativas. Ou seja, acreditar numa superioridade ilusória, onde defeitos e erros são completamente ignorados.
Para uma boa e fácil explicação, recomendo o vídeo abaixo:
Quando o assunto é M&A de Startups acreditar que está acima da média é muito comum.
Um cenário que percebo que isso se manifesta com frequência é na ilusão dos valuations multi-milionários. Não são raros os casos em que o empreendedor segue acreditando que dá para aumentar seu valuation.
Chegou uma oferta de compra de 10 milhões? Mas ele acha que dá para vender por 50 milhões. Chegou uma oferta de 100 milhões? Mas se ele só arrumar mais uma coisinha, ele tem convicção que dá para buscar 200 milhões…
É muito difícil para os empreendedores considerar o cenário em que justamente a sua startup, dentre várias adquiridas de um mesmo comprador ou dentro de um mesmo setor, vai ter o menor preço, menor múltiplo e/ou não vai ter as melhores condições possíveis. Afinal, o empreendedor acredita que está acima da média. Mais do que isso, acredita que está no primeiro decil!!!
Não me entenda mal. Esse otimismo no que está construindo é uma característica fundamental nos empreendedores. Tenho grande respeito e admiração por isso. Empreender, definitivamente, não é tarefa fácil.
Mas é preciso atenção porque muitas vezes esse otimismo se torna uma ilusão. Seja por conta das notícias que dão destaque desproporcional aos grandes deals, seja por investidores com expectativas irreais ou seja pela falta de informação sobre o tema. Afinal, qual é a mediana do valuation de saída dos M&As de startups no Brasil?
Essa é a pergunta que vamos buscar responder hoje.
Metodologia e inspirações
Para essa análise, estruturei os seguintes passos:
Listei, segundo dados do SlingHub, os maiores compradores de startups na América Latina: Magazine Luiza, Linx, Locaweb, iFood, B2W / Lojas Americanas, Méliuz, Mercado Livre VTEX, Accenture e Afya. Fonte.
Deles, mantive apenas os que são empresas latinoamericanas de capital aberto. Ou seja, excluí o iFood (capital fechado) e Accenture (empresa irlandesa) da relação.
Com a lista atualizada, compilei, por meio dos Financials Statements disponibilizados na página de relacionamento com investidores, todas as aquisições no período de 2016 a 3T 2021 (transações onde houve compra de mais de 51%). Para isso, segui os passos que compartilhei no Exit in Public #1.
Com isso, montei uma base de 99 aquisições, na qual compilei o valor do deal (preço pago + earnout previsto pela administração nas demonstrações financeiras) e, também, o % do earnout sobre o valor do deal.
Quando não ficava claro o earnout previsto, atribuía N/A na aquisição correspondente. Ao total foram 11 marcadas com N/A. Todas estas foram excluídas da análise, o que nos deixou com uma amostra de 88 transações (n=88).
Agrupei por ranges de valor do deal por ano para chegar aos resultados. Me insipirei no estudo compartilhado pela DealflowBR #53.
Resultados
Insight #1
😯 80% dos deals (n=88) tiveram um valor (preço pago + earnout previsto pela administração nas demonstrações financeiras) inferior a R$ 90 milhões. Dos 20% acima disso, 11% estão na faixa de R$ 100 a 200 milhões de reais e 9% na faixa superior a R$ 200 milhões de reais.
Abaixo de R$ 50 milhões, temos 70% das transações realizadas.
Insight #2
🏅 Na imagem abaixo, vemos qual o range de valores mais frequentes nas aquisições por comprador e, também, dentro de um mesmo range qual comprador mais efetua transações nele.
Insight #3
🚀 Houve uma clara aceleração do volume de M&A dessas companhias no período analisado. Saímos de 4 transações em 2016 para 36 até 3T 2021.
Insight #4
💰 A partir de 2019 começamos a ver os deals acima de R$ 100 milhões. Além disso, vemos um aumento considerável dos deals até R$ 30 milhões.
Extra: Insight #5
🎯 Na média 34% do valor (preço pago + earnout previsto pela administração nas demonstrações financeiras) é relativo ao earnout, com uma mediana de 33% e desvio padrão de 24%.
Obs.: aqui o n=81, pois há 7 casos, além dos 11 citados acima de N/A, onde fica claro que o valor não excede X, o que nos permite usar anteriormente, mas não fica claro se dentro de X há uma parcela de earnout. Com isso, optei por retirá-los da análise.
Roadmap
Pretendo manter este estudo vivo! Minha ideia é:
Atualizar trimestralmente os dados a medida que as empresas analisadas publicarem suas demonstrações financeiras no site de RI;
Adicionar outras compradoras frequentes na análise, tais como: Stone, XP, Neogrid, TOTVS, Arco, Nubank, Infracommerce, entre outras;
Estou organizando a base para outras análises que vejo que serão relevantes de compartilhar. Aguardem!
Ouvir os feedbacks de vocês de como melhorar e para trazer mais insights! Não deixa de me mandar suas opiniões e sugestões 👊
E aí? Você já tinha essa visão de qual é a mediana do valuation de saída dos M&As de startups?
Como recado final: cuidado com o efeito do Lago Wobegon… um bom exit pode deixar de acontecer por causa dele!
Disclaimer: As análises e opiniões são minhas. Não estou fazendo qualquer tipo de indicação de investimento. Esse post tem apenas caráter educativo que visa apoiar empreendedores, investidores e demais interessados em melhor analisar transações de M&A divulgadas no mercado.
Links que recomendo:
Como o jurídico pode definir o seu M&A, da ACE Startups
Valor da compra não revelado? 🤔, da Exit in Public
Segue a minha saga pelas oportunidades na Web3, da DealflowBR
Non-HSR Reported Acquisitions by Select Technology Platforms 2010–2019, da FTC
De Magazine Luiza a Mercado Livre: veja as maiores compradoras de startups na América Latina, da InfoMoney
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Grande abraço,
Luiz
Seria legal comparar esses exits tech versus exits não-tech. Tivemos várias aquisições não-tech, como por exemplo o da SulAmerica.
Opa Luis!! Muito interessante a análise. Nos USA acontece algo parecido nos números.
Desde o ano passado tenho recebido algumas propostas de papo sobre M&A.
O valuation de captação e o valuation de venda são problemas que transformam as negociações.
Tive approaches totalmente predatório e outros bem interessantes.
Nos USA não se usa em múltiplo de faturamento em SAAS para cálculo de valor de mercado de startups com SEED rounds.
No Brasil se usa muito isso para o efeito inverso do Lake Wobegon. Que é transformar empreendedores em funcionários de luxo (golden chained entrepreneurs) durante a aquisição.
Muitas vezes mantendo o empreendedor com porcentagem significativa dentro da empresa, fazendo exit para investidores e uma pequena saída com earn-outs cheios de gatilho.
Conheço alguns que fizeram isso e estão felizes e outros bastante desmotivados.
Eu converso bastante sobre o tema com outros empreendedores e o sonho da saída divide o medo do fracasso na busca do crescimento.
O pensamento All-in pesa. E empreendedores muitas vezes nem superestimam a sua startup pois nem chegam numa conversa de M&A. Eles morrem antes ou crescem muito rápido.
O que percebi é que Startups faturando menos de R$1M/mês e com dificuldade de escala/funding se tornam alvos de M&A e o pensamento é: “ continuar tentando ou aceitar as condições do deal?”
E nessa hora o bicho pega. São tão poucos deals de M&A no Brasil que o empreendedor nem sabe se está ou não fazendo o bom negócio.
Por isso ótimo esse levantamento!
Parabéns!!